Quem é o culpado pelas alterações climáticas?
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O Concílio de Copenhaga

Terminou sexta-feira o Concílio de Copenhaga, perdão, a Cimeira de Copenhaga. Como previsto, os cardeais, perdão, os delegados concluíram que por causa dos pecados de Sodoma e Gomorra, perdão, do modo de vida dos Estados Unidos e dos países da Europa ocidental, o nosso planeta será castigado. Independentemente de aqui habitarem alguns justos, perdão, sócios da Greenpeace com as quotas em dia. Pagarão à mesma pelas faltas dos pecadores, perdão, das pessoas que insistem em gastar água, tomando banho todos os dias. A ira divina, perdão, o aquecimento global, afecta toda a gente.

A tensão é palpável, como se viu nos vários autos-de-fé, perdão, manifestações nas ruas de Copenhaga. Há quem esteja mesmo convencido de que, se não respeitarem os Dez Mandamentos, perdão, o Protocolo de Quioto, virá aí o Apocalipse, perdão, o aumento de dois graus na temperatura da Terra. A culpa, perdão, a responsabilidade é do Homem.
Dizem que se não levarmos uma vida santa, perdão, sustentável, estamos condenados, perdão, lixados. Que temos de jejuar, perdão, ter uma alimentação vegan. Que devemos fazer um voto de pobreza, perdão, ir a pé para o emprego. E que talvez seja preciso andar com um cilício à volta do lombo, perdão, passar a usar o áspero papel higiénico reciclado. Quantas mais penitências, perdão, sacrifícios estúpidos sem qualquer relação causa-efeito com o problema do aquecimento global, melhor. Caso contrário, o Anjo da Morte, perdão, a Natureza, exterminará todos os primogénitos do Egipto, perdão, os ursos polares.

Os fiéis, perdão, as pessoas, acreditam nas profecias, perdão, nas previsões do Vaticano, perdão, IPCC. Isto apesar das declarações dos blasfemos, perdão, dos cientistas cépticos que, com as suas heresias, perdão, investigações, põem em causa os dogmas, perdão, as teorias dos padres, perdão, activistas do aquecimento global. E também apesar de alguns missionários, perdão, cientistas, terem sido apanhados a corrigir o cânone, perdão, a aldrabar os dados.
Mas as pessoas andam cheiinhas de temor do Deus vingativo do Antigo Testamento, perdão, de medo da Natureza, que causa tsunamis porque alguém cometeu adultério, perdão, não pagou a "compensação de carbono" da última vez que andou de avião. Têm razão em ter medo? Bem, os presságios, perdão, os sinais estão aí: descobriu-se na semana passada uma estátua de Nossa Senhora a chorar lágrimas de sangue, perdão, uma fotografia da Angelina Jolie a chorar lágrimas de sangue. O mais grave é que esse sangue tinha o nível de colesterol altíssimo, típico de uma alimentação à base de comida não kosher, perdão, de junk food proveniente de multinacionais imperialistas. Ah! Se fôssemos todos crentes, perdão, verdes.

Resta-nos rezar, perdão, comprar um carro eléctrico, para evitar que se abata sobre nós "um dilúvio que, tudo inundando, eliminará debaixo do céu todo o ser animal, com sopro de vida. Tudo o que existe na terra perecerá". Tal como está escrito no Génesis, 7-16, perdão 7-17.
Se uma árvore cai na floresta sem ninguém por perto, faz barulho? A árvore talvez não, mas um ambientalista dos que estiveram em Copenhaga, ui!, faz de certeza. E muito. Põe-se aos berros a dizer que a árvore caiu por nossa culpa. Porque não fomos bons, perdão, porque ainda não trocámos as lâmpadas antigas pelas económicas.
O discurso ambientalista actual é tão útil quanto um passageiro de avião histérico a gritar "vamos cair!" quando há turbulência. Se bem que um ecologista talvez ficasse contente se o avião caísse a meio da viagem, reduzindo a pegada de carbono em metade.

Agora, se o Homem é, de facto, o maior responsável pelo aquecimento global, espero que aplique o know-how à indústria dos micro-ondas, inventando um que aqueça globalmente a comida, em vez de só parcialmente. Estou farto de comer sopa que está quente à superfície, mas gelada em baixo. Se se consegue fazer com um planeta, não há razão para não se fazer com uma canja.
Fonte: José Diogo Quintela público, dezembro 2009

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